Inteligencia Artificial na Medicina: Entre o Potencial e a Responsabilidade

21/11/2025
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A inteligência artificial na medicina deixou de ser apenas uma promessa futurista e já faz parte da rotina de hospitais, clínicas e consultórios. Para especialistas, a discussão hoje não é mais sobre “se” devemos usar essa tecnologia, mas “como” integrá-la de forma segura, ética e responsável. O tema ganha cada vez mais relevância à medida que a IA passa a influenciar diretamente decisões clínicas e condutas médicas.

Mesmo entre os maiores entusiastas da inovação, persiste uma preocupação central: a confiabilidade dos algoritmos. Sem critérios claros, validação rigorosa e boas práticas, o uso indiscriminado da IA pode comprometer diagnósticos, levar a condutas equivocadas e afetar a segurança do paciente.

### IA na saúde: potencial enorme, mas uso precisa de critério

Os debates mais recentes sobre saúde digital deixam claro que a inteligência artificial já está inserida no cotidiano médico. No entanto, isso não significa que todo uso seja automaticamente benéfico.

O médico Charles Souleyman, diretor-executivo da Rede Total Care, alerta para um risco crescente: utilizar tecnologia apenas como ferramenta de aceleração de atendimento, sem a devida profundidade na consulta. Ele critica modelos de telemedicina baseados em interações rápidas, superficiais e pouco detalhadas.

Segundo Souleyman, esse tipo de abordagem tende a resultar em atendimentos de baixa qualidade e, como agravante, no excesso de solicitação de exames — muitas vezes desnecessários. Em vez de qualificar o cuidado, a tecnologia, quando mal empregada, pode transformar o atendimento em algo automático e pouco preciso.

O grande desafio, portanto, é incorporar a IA como aliada, e não como substituta do raciocínio clínico. A tecnologia pode ser poderosa, mas só traz benefício real quando usada com responsabilidade e critério.

### Algoritmos bem treinados são a base de tudo

Para que a inteligência artificial tenha um papel positivo nas decisões clínicas, ela precisa ser construída sobre bases de dados robustas e bem estruturadas. A qualidade desses dados e a forma como os algoritmos são validados são determinantes para o resultado final.

O urologista e especialista em projetos de telemedicina Carlos Sacomani, em participação no FISweek 2025 — evento voltado à inovação e tendências em saúde — reforçou a importância de saber exatamente como esses algoritmos são treinados.

Ele destaca que é fundamental compreender se o conjunto de dados utilizado é realmente representativo e se o processo de validação foi consistente. Sem isso, a ferramenta corre o risco de parecer precisa, mas entregar respostas equivocadas na prática.

Sacomani também chama atenção para soluções que chegam ao mercado prometendo resolver qualquer problema de forma quase “mágica”. Na prática, muitas delas não cumprem o que anunciam. Quando não há validação adequada, a IA pode criar uma perigosa ilusão de precisão em ambiente médico — justamente onde o erro tem alto impacto.

### O que faz um algoritmo ser confiável na medicina?

Entre os critérios apontados por especialistas, destacam-se:

- Uso de bases de dados amplas e representativas da população atendida.

- Processos de validação consistentes antes de qualquer aplicação clínica.

- Transparência sobre limitações, escopo de uso e cenários em que a ferramenta não deve ser aplicada.

- Atualizações frequentes, acompanhando novos estudos, diretrizes e evidências científicas.

- Revisão constante por equipes multidisciplinares e profissionais de saúde especializados.

Quando bem desenvolvidos e integrados ao fluxo de trabalho, algoritmos de IA podem apoiar o médico na priorização de dúvidas, na sugestão de abordagens diagnósticas ou terapêuticas e na organização do fluxo interno, contribuindo para um atendimento mais ágil e qualificado.

### Formação dos profissionais: um elo ainda frágil

Se por um lado a tecnologia avança rápido, por outro, a formação dos profissionais de saúde ainda caminha a passos lentos nesse tema. Charles Souleyman ressalta que a capacitação para o uso de IA praticamente não aparece nas grades curriculares da maioria das faculdades de medicina, criando uma lacuna importante.

Esse preparo é essencial. Médicos e outros profissionais precisam aprender não apenas a operar ferramentas digitais, mas, principalmente, a fazer as perguntas certas, interpretar as respostas com senso crítico e identificar possíveis falhas ou vieses da tecnologia.

Sem essa base, há o risco de uso acrítico da IA, com confiança excessiva em recomendações automatizadas — algo particularmente perigoso na área da saúde.

### IA como apoio à consulta e à experiência do paciente

Quando bem utilizada, a inteligência artificial pode contribuir também para melhorar a experiência do paciente. Em consultas assistidas por IA, por exemplo, a tecnologia pode ajudar o médico a:

- Organizar dúvidas frequentes e antecipar questões importantes.

- Sugerir formas de comunicação mais acolhedoras e claras.

- Indicar possíveis exames complementares, sempre como apoio, e não substituição do julgamento clínico.

Além disso, no dia a dia dos serviços de saúde, a IA pode otimizar fluxos internos, reduzir tarefas burocráticas, liberar mais tempo para o contato direto com o paciente e tornar o atendimento globalmente mais eficiente.

### FISweek 2025: IA como transformação, não atalho

As discussões do FISweek 2025 reforçam que a inteligência artificial tem potencial para transformar tanto o cuidado ao paciente quanto a gestão hospitalar. De suporte ao diagnóstico à organização de processos internos, a tecnologia pode redefinir o funcionamento de sistemas de saúde.

Mas a mensagem dos especialistas é clara: essa transformação só será positiva se vier acompanhada de validação rigorosa, critérios bem estabelecidos e profissionais devidamente preparados para usar a IA de forma ética, consciente e crítica.

Em resumo, a inteligência artificial na medicina já é realidade — e o próximo passo não é simplesmente adotá-la, mas garantir que ela seja aplicada com responsabilidade, segurança e foco real na qualidade do cuidado ao paciente.

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