O Windows 11 está prestes a ganhar agentes de inteligência artificial capazes de executar tarefas de forma autônoma — e isso acende um sinal de alerta na área de segurança digital. A própria Microsoft admite que esses novos sistemas podem abrir brechas inéditas, e tenta encontrar um ponto de equilíbrio entre acesso, controle e proteção para quem usa o sistema operacional.
No momento, esses recursos ainda são experimentais e restritos ao programa Windows Insider, mas já deixam claro o plano da empresa: integrar a IA generativa diretamente ao núcleo do Windows 11 para turbinar a produtividade, ao mesmo tempo em que aumenta a responsabilidade em relação à segurança.
---
### Agentes que “fazem por você” — e também podem falhar
Há alguns meses, a Microsoft vem falando em “agentes” de IA como assistentes digitais que assumem tarefas que hoje exigem acompanhamento direto do usuário. Entre as funções prometidas estão:
- organizar arquivos,
- marcar reuniões,
- enviar e-mails,
- executar fluxos de trabalho mais complexos sem supervisão constante.
A nova função Copilot Actions é apresentada como “um colaborador digital ativo que pode executar tarefas complexas por você”, atuando em segundo plano para simplificar o dia a dia.
O problema é que, como qualquer sistema de IA, esses agentes estão sujeitos a erros: podem interpretar comandos de forma equivocada, executar ações erradas e ainda assim demonstrar “confiança” no que estão fazendo, mesmo quando não compreendem totalmente a tarefa. O risco fica ainda maior se alguém mal-intencionado conseguir influenciar ou manipular as instruções dadas a esses agentes. A Microsoft reconhece oficialmente que isso cria “novos riscos de segurança”.
---
### Como a Microsoft tenta conter os riscos
Para reduzir a chance de problemas, a empresa está desenhando uma camada robusta de proteção em torno desses agentes. Por enquanto, nas versões de teste, os recursos são totalmente opcionais e vêm desativados por padrão.
Entre as medidas anunciadas para os agentes de IA estão:
- **Contas próprias de usuário**: cada agente roda em uma conta separada, distinta da conta do usuário real.
- **Acesso limitado ao sistema**: permissões específicas, em vez de controle total sobre o ambiente.
- **Área de trabalho isolada**: o agente opera em um espaço independente, sem interferir diretamente na tela principal do usuário.
- **Registro obrigatório de atividades**: tudo o que o agente faz gera histórico rastreável.
- **Pedidos de permissão visíveis**: ações relevantes exigem autorização clara e controlável pelo usuário.
Segundo a Microsoft, “todas as ações de um agente são observáveis e distinguíveis daquelas realizadas por um usuário”. Em tarefas mais complexas, a pessoa poderá visualizar uma lista de etapas antes de autorizar a execução.
Ainda assim, esses agentes poderão solicitar acesso de leitura e gravação a diretórios críticos da conta, como:
- Documentos,
- Downloads,
- Área de Trabalho,
- Imagens,
- Música,
- Vídeos.
Eles também terão visibilidade sobre todos os aplicativos instalados para todos os usuários do computador, o que amplia a superfície de risco caso algo saia do controle.
A empresa chama atenção ainda para um tipo específico de ameaça: a chamada **“injeção entre prompts” (XPIA)**. Nessa técnica, elementos maliciosos inseridos em documentos, páginas ou interfaces podem substituir ou sobrepor as instruções originais dadas ao agente, levando-o a executar ações indesejadas — que podem ir desde extração indevida de dados até instalação de malware.
---
### Aprendizado com o passado e novo rumo do Copilot
Um detalhe importante é que esses recursos de IA autônoma chegam, por padrão, desativados, acompanhados de um documento extenso sobre riscos e cuidados. Esse posicionamento mais cauteloso indica que a Microsoft tenta evitar repetir polêmicas recentes, como a do Windows Recall, que foi duramente criticado por questões de privacidade e segurança.
A expectativa é que essa abordagem **opt-in** — em que o usuário precisa ativar manualmente os recursos — seja mantida quando as novidades forem liberadas para o público geral. Caso contrário, há o risco de que esses agentes se tornem apenas mais uma configuração que muita gente terá de desmarcar para impedir que funções baseadas em nuvem e IA interfiram no uso cotidiano do computador.
Paralelamente, a empresa também investe em uma face mais amigável da inteligência artificial no Windows 11. O Copilot deve receber melhorias de acessibilidade, com:
- comandos de voz mais avançados,
- facilidades para interação por meio de fala,
- e um novo personagem animado chamado **“Mico”**, claramente inspirado no clássico assistente Clippy.
A ideia é tornar a experiência com IA mais intuitiva, acessível e “humana”, ao mesmo tempo em que o sistema ganha agentes cada vez mais poderosos — e, por isso mesmo, exigindo atenção redobrada à segurança.