Wicked: Parte 2 é, sem dúvida, um dos filmes mais aguardados de 2025 – e não à toa. Depois de assistir à primeira parte, é quase impossível não se encantar por Glinda (Ariana Grande) e Elphaba (Cynthia Erivo). A química entre as duas vai muito além do espetáculo visual: a narrativa aprofunda a importância da amizade, explora as zonas cinzentas dos relacionamentos e se desenrola em um mundo dominado pelo extremismo. A seguir, confira a crítica com spoilers da segunda parte de Wicked nos cinemas.
AVISO: este texto contém SPOILERS de Wicked: Parte 2. O ideal é assistir ao filme antes de prosseguir com a leitura.
História
Dirigido por John M. Chu, Wicked: Parte 2 (Wicked: For Good no original) permanece fiel à segunda parte do musical da Broadway e recria com precisão diversos diálogos que marcaram os fãs da peça.
Na continuação, assim como no teatro, vemos Glinda (Ariana Grande) e Fiyero (Jonathan Bailey) assumindo o poder em Oz, ao mesmo tempo em que mantêm um relacionamento desequilibrado, no qual a reciprocidade não é exatamente o ponto forte. Enquanto isso, Elphaba (Cynthia Erivo) permanece nas sombras, determinada a provar sua inocência e a salvar os Animais, lutando para que recuperem a dignidade e o espaço igualitário que antes possuíam na cidade – tudo isso tomado deles pelo manipulador Mágico de Oz (Jeff Goldblum).
Para alimentar o caos e a revolta da população contra Elphaba, agora conhecida como a Bruxa Má do Oeste, Madame Morrible (Michelle Yeoh) amplia o discurso de ódio e ajuda a consolidar o tom mais político e sombrio desta segunda parte. Se o primeiro filme serviu como introdução ao universo de Oz, a sequência mergulha mais fundo nas tensões e consequências desse cenário.
Nessarose (Marissa Tropp) também ganha maior protagonismo. A personagem assume um posto de antagonista movida por mágoas em relação à própria irmã. Enquanto Elphaba tenta, de forma genuína, promover paz e acolhimento em meio a uma literal caça às bruxas, Nessa deixa que o ressentimento tome conta. É durante o reencontro das duas que acontece a fatídica cena em que Nessarose tenta lançar um feitiço para fazer Boq (Ethan Slater) se apaixonar por ela. O plano dá errado, e Boq acaba se transformando no Homem de Lata – personagem que, mais tarde, se une a Dorothy contra a Bruxa Má do Oeste, que leva a culpa pelo ocorrido.
Embora tenha feito as pazes com Glinda, Elphaba chega à dolorosa percepção de que a sociedade parece precisar de extremos para funcionar: alguém para idolatrar e alguém para condenar. É um dos momentos mais tristes da trama, pois marca o entendimento de que não existe, de fato, um lugar para ela em Oz. A partir disso, ela decide encarnar a vilã que todos esperam, aceitando ser “derrotada” pela água jogada sobre seu corpo – o que a faria derreter. Assim como na peça, porém, tudo não passa de um plano: Elphaba consegue escapar e foge com Fiyero, já transformado em Espantalho, em busca de um novo mundo.
Entre esse plano e a fuga, o filme introduz Dorothy e traz referências diretas a O Mágico de Oz. Vemos, por exemplo, o Mágico exigindo que Dorothy traga a vassoura de Elphaba como prova de sua morte, sua perseguição implacável à bruxa e a disputa pelos sapatos de Nessarose – o único objeto que restaria a Elphaba como lembrança da irmã, morta em uma trama articulada, em grande parte, por Madame Morrible.
A opção de nunca mostrar o rosto de Dorothy nem aprofundar sua trajetória abre espaço para a especulação sobre um futuro remake do clássico e até mesmo a possibilidade de um reencontro com a Bruxa Má do Oeste em outra perspectiva, talvez já abraçando em definitivo seu lado sombrio.
Ainda que a segunda parte traga inúmeras qualidades, há um consenso entre muitos fãs de que o segundo ato do musical é, em geral, menos impactante que o primeiro. O filme se esforça para enriquecer essa porção da história, adicionando novos elementos relevantes, mas não escapa totalmente da comparação. Wicked: Parte 2 é um longa poderoso, porém, frente ao impacto da primeira parte, não alcança o mesmo efeito. Em especial porque é praticamente impossível superar o peso icônico de “Defying Gravity”.
Livro, peça e cinema: o que é fiel e o que é original
Os principais momentos-chave da trama são adaptados com fidelidade e cuidado:
- O casamento indesejado de Fiyero e Glinda;
- A busca de Elphaba por justiça e o confronto com o Mágico de Oz;
- A dinâmica da amizade entre as protagonistas, que, no palco, tende a ser mais agridoce, enquanto no filme ganha um foco maior na irmandade;
- A tentativa de Elphaba de restabelecer laços com a irmã e as consequências drásticas disso para Boq (Ethan Slater);
- A transformação de Fiyero em Espantalho para que ele não seja morto;
- O final ambíguo de Elphaba;
- O sonho realizado de Glinda ao assumir o comando de Oz e se comprometer com o bem, ainda que às custas da perda trágica de sua melhor amiga.
Esses elementos ajudam a manter a conexão direta com o material original, ao mesmo tempo em que o filme encontra sua própria forma de narrar a história.
A história de Nessarose
Um dos ajustes mais significativos em relação à peça está na representação de Nessarose. Em vez de seguir o roteiro do musical, em que ela volta a andar após um feitiço de Elphaba, o filme opta por uma abordagem diferente, ouvindo com atenção o público PcD.
Na versão para o cinema, o encantamento de Elphaba não faz Nessarose deixar de usar sua cadeira de rodas, mas permite que ela flutue usando sapatos mágicos. Essa mudança evita reforçar uma visão capacitista e se mostra um cuidado importante na adaptação, mantendo a magia sem associar a deficiência a algo que precisa ser “corrigido” a qualquer custo.
Músicas novas
Wicked: Parte 2 traz duas canções inéditas, o que reforça, inclusive, a intenção da produção em se destacar em categorias de trilha sonora em futuras premiações. As novas músicas são:
- No Place Like Home: solo de Elphaba (Cynthia Erivo) em que ela reflete sobre a busca por um lar, enquanto tenta convencer os Animais a permanecerem em Oz e a lutarem por seus direitos em vez de fugirem.
- The Girl in the Bubble: solo de Glinda (Ariana Grande) que expõe a necessidade de enxergar além de seus privilégios. A música é acompanhada por flashbacks de sua infância e revela a frustração de não ter conseguido dominar a magia como sempre sonhou.
Essas composições ampliam o olhar sobre as personagens e aprofundam seus conflitos internos.
Perspectiva de Elphaba
Nesta segunda parte, finalmente entramos de verdade no mundo privado de Elphaba. O filme nos leva ao esconderijo da personagem, uma cabana afastada onde ela e Fiyero compartilham momentos íntimos e cantam “As Long as You’re Mine”, declarando o amor que sentem um pelo outro.
Os detalhes desse cenário são explorados de forma bem mais rica do que na peça e ajudam a traduzir visualmente a personalidade e a estética de Elphaba: um refúgio que combina vulnerabilidade, força e um certo isolamento inevitável.
Principais destaques
Wicked: For Good chega aos cinemas com uma clara dupla missão: encerrar a história, honrando profundamente o legado do musical, e posicionar o filme na disputa por grandes premiações. As atuações de Ariana Grande e Cynthia Erivo se destacam pelo empenho visível e pela entrega emocional. A tendência é que Ariana seja lembrada em categorias de Atriz Coadjuvante, enquanto Cynthia deve aparecer forte na corrida por Melhor Atriz.
Michelle Yeoh, como a detestável Madame Morrible, oferece uma vilã marcante e incômoda. Já Jeff Goldblum, na pele do Mágico de Oz, equilibra humor e crueldade, criando um personagem que, embora tenha motivos de sobra para ser odiado, acaba se tornando cativante em sua excentricidade.
Os efeitos visuais também merecem menção especial. As sequências com os Animais são impressionantes e ajudam a despertar empatia do público por suas histórias e pelas injustiças que sofrem em Oz. As expressões faciais e o comportamento desses personagens digitais são convincentes, resultando em um dos pontos altos do filme do ponto de vista técnico.
Aspectos técnicos
A segunda parte de Wicked mantém o padrão elevado de fotografia e a construção meticulosa do mundo de Oz, com uma direção de arte que investe em detalhes. Fica nítida a intenção de posicionar o filme não apenas nas categorias de atuação, mas também em prêmios técnicos.
Entre as áreas em que a produção demonstra força estão Design de Produção, Fotografia, Figurino, Maquiagem e Penteados, Montagem, Som (Edição e Mixagem), Efeitos Visuais e Trilha Sonora Original. O cuidado em cada um desses elementos reforça o caráter grandioso da adaptação.
Conclusão
Wicked: Parte 2 não apenas respeita e honra o legado da cultuada peça da Broadway, como também imprime um tom próprio, sustentado especialmente pela dupla de protagonistas. A entrega de Ariana Grande e Cynthia Erivo é evidente, e as duas conseguem reforçar, com firmeza, o poder da amizade em um mundo marcado por injustiças e disputas de poder.
O filme funciona como um presente aos fãs de longa data e, ao mesmo tempo, como porta de entrada para novos espectadores, que podem se encantar pela história mesmo sem familiaridade prévia com o musical. Ainda que a comparação com a primeira parte seja inevitável – e que muitos considerem o impacto inicial mais forte –, a resposta emocional do público na sala de cinema, com lágrimas e suspiros ao final, é um termômetro eficiente do sucesso dessa conclusão.
Wicked: Parte 2 chega aos cinemas em 20 de novembro, encerrando uma jornada repleta de conflitos, aprendizados e uma amizade que desafia os limites impostos por um mundo dividido.