A pergunta que abre esta matéria traduz uma dúvida quase inevitável na hora de escolher um notebook: quanta memória RAM realmente precisamos hoje? Em um cenário em que o computador virou plataforma para tudo — trabalho pesado com planilhas, edição de vídeo, jogos modernos e dezenas de abas abertas no navegador — a RAM é o componente que define o quão suave ou travada será a sua experiência.
Surge então a sequência de dilemas: vale a pena comprar um notebook gamer com 8 GB de RAM? E com 16 GB? Em que momento faz sentido investir em 32 GB?
Nos desktops, a decisão é mais flexível, já que é comum poder trocar ou acrescentar módulos depois. Mas, nos notebooks atuais — especialmente os modelos mais finos, como ultrabooks — a história é bem diferente: a memória costuma vir soldada na placa-mãe. Em outras palavras, o que você escolhe no momento da compra tende a ser definitivo. Errou na capacidade? Dificilmente poderá corrigir depois.
Diante disso, fica a dúvida: 8 GB ainda “dá para o gasto”? 16 GB virou o novo padrão? Já está na hora de mirar em 32 GB? Como quase tudo em hardware, a resposta é: depende do seu uso. Antes de detalhar cada perfil de usuário, vale entender o papel da RAM.
### O que, afinal, a memória RAM faz?
Uma boa forma de imaginar a RAM é pensar nela como a mesa de trabalho do seu computador. O processador é quem executa as tarefas. O SSD ou HD funciona como o arquivo onde ficam guardados todos os dados. A RAM, por sua vez, é a superfície onde o processador espalha tudo o que está utilizando naquele exato momento: sistema operacional, programas abertos, abas do navegador, documentos, arquivos temporários e uma série de outros dados ativos.
Se essa “mesa” é pequena, você só consegue manter poucos itens abertos ao mesmo tempo. Quando tenta abrir mais um programa ou aumentar a carga de trabalho, o sistema é obrigado a tirar alguma coisa da mesa e guardar de volta na “gaveta” (o SSD) para liberar espaço. Essa troca constante entre RAM e armazenamento é o que gera travadas, engasgos e aquela sensação de lentidão que irrita qualquer usuário.
### 16 GB: o novo ponto de partida
Por muitos anos, 8 GB de RAM foram considerados o padrão confortável. Isso mudou. Hoje, o combo formado pelo Windows 11, navegadores cada vez mais pesados e aplicativos de comunicação já consome grande parte desses 8 GB em tarefas cotidianas.
Para chegar em 2025 com um notebook realmente “bom” e com uso fluido, 16 GB se consolidam como o novo ponto de partida. Essa quantidade permite um multitarefa real: dezenas de abas abertas, Spotify tocando, aplicativos de Office em uso, mensageiros e redes sociais rodando ao mesmo tempo — tudo isso sem que a máquina fique pedindo arrego.
No caso de jogos, 16 GB (de preferência em dual-channel, ou seja, dois módulos de 8 GB trabalhando em conjunto) se tornaram o mínimo para encarar títulos modernos sem aquelas “travadinhas” incômodas que quebram a imersão.
### Qual é a quantidade ideal de RAM para o seu perfil?
Para definir a configuração de memória que faz sentido para você — e isso vale também para outros componentes — o primeiro passo é entender qual é o seu perfil de uso. A seguir, os principais perfis e a quantidade recomendada de RAM para cada um.
#### Estudo e uso básico
- **8 GB**: é o mínimo aceitável. Vai funcionar, mas com limitações claras. Se você gosta de manter muitas abas de pesquisa abertas, ouvir música e escrever trabalhos ao mesmo tempo, é provável que comece a sentir lentidão e engasgos com certa frequência.
- **16 GB**: oferece uma experiência bem mais folgada e preparada para os próximos anos. Com essa quantidade, o notebook tende a se manter estável em situações como uma videoconferência enquanto você consulta um PDF pesado e mantém várias abas no navegador.
#### Para jogar
- **16 GB**: hoje, é o mínimo indispensável para um PC gamer atual. Jogos mais recentes e exigentes — como Alan Wake 2, Cyberpunk 2077 e vários outros — ultrapassam os 8 GB de uso de RAM com facilidade, especialmente em configurações mais altas.
- **32 GB**: é o “sweet spot” para quem leva jogos mais a sério. Essa é a capacidade comum em máquinas de alto desempenho, como desktops gamer robustos e notebooks gamers topo de linha. Com 32 GB, é possível jogar em 1440p ou 4K (desde que a GPU acompanhe) e ainda manter Discord, OBS para streaming e outros aplicativos em segundo plano sem impacto relevante na performance.
#### Trabalho e produtividade
- **16 GB**: suficientes para a maioria dos profissionais em rotina de multitarefa: edição de documentos, planilhas, navegação intensa, ferramentas de programação, comunicação corporativa e afins.
- **32 GB**: indicado se o seu multitarefa é realmente pesado. Por exemplo, se você trabalha com múltiplas máquinas virtuais, bancos de dados locais, uma grande quantidade de aplicações abertas ao mesmo tempo ou planilhas gigantes com milhares de linhas.
#### Criação de conteúdo e tarefas com IA
- **32 GB**: aqui, 32 GB deixam de ser luxo e viram ponto de partida. Essencial para edição de vídeo em 4K, produção 3D com cenas complexas e desenvolvimento de modelos de inteligência artificial em nível mais avançado.
- **64 GB (ou mais)**: a partir desse patamar, entramos em território de profissionais com demandas realmente altas. Edição de arquivos em 8K RAW, simulações científicas pesadas ou trabalho com modelos de IA muito grandes podem exigir 64 GB ou até 128 GB de RAM. O apetite de aplicações de IA por memória está altíssimo e se tornou um dos fatores centrais na definição de workstations profissionais.
Não à toa, muitos notebooks da categoria “AI PC” já saem de fábrica com 32 GB de RAM, justamente para suportar essa nova leva de aplicações baseadas em inteligência artificial.
### Conclusão: não economize na RAM
A quantidade de memória RAM impacta diretamente a sensação de velocidade do sistema e a vida útil do notebook. Para a maioria das pessoas, a decisão mais equilibrada hoje é investir em 16 GB, que oferecem um bom ponto entre custo e benefício, garantindo uma máquina ágil agora e com algum fôlego para os próximos anos — mesmo sem sabermos até quando esse patamar se manterá confortável.
Optar por um notebook com 8 GB em 2025 é muito parecido com ter comprado um modelo com 4 GB alguns anos atrás: parece uma economia no início, mas a frustração costuma chegar cedo. E, considerando que em muitos casos o upgrade de RAM simplesmente não é possível, compensa muito mais acertar na capacidade logo na compra do que ficar preso a uma configuração limitada pelo resto da vida útil do aparelho.