Talita Bruzzi Taliberti, country manager da Alexa no Brasil, admitiu que a Amazon aumentou a quantidade de publicidade exibida nos dispositivos com a assistente de voz no país. Segundo ela, essa estratégia é vista internamente como necessária para garantir a sustentabilidade do negócio.
Talita lembra que anúncios não são exatamente uma novidade no ecossistema Alexa. Eles já apareciam em contextos como boletins de notícias e na reprodução de músicas em serviços gratuitos, como Amazon Music e Spotify. A diferença agora é a ampliação desse modelo.
“É uma forma de a gente conseguir gerar monetização e continuar oferecendo todo o nosso serviço, que tem um custo por trás – que não é baixo”, afirmou a executiva durante a apresentação da nova geração do Echo Show, realizada na sede da empresa em São Paulo. O evento contou com uma sessão de perguntas de jornalistas, momento em que o tema publicidade ganhou destaque.
Na ocasião, foi levantada a teoria da “enshitfication”, criada pelo ativista de direitos digitais Cory Doctorow. Segundo esse conceito, plataformas digitais tenderiam a piorar deliberadamente sua experiência ao longo do tempo para extrair cada vez mais valor dos usuários. Confrontada com essa visão, Talita buscou afastar a ideia de que esse seria o caminho trilhado pela Amazon.
“Somos obcecados pelo consumidor. Nossa visão é de conseguir trazer anúncios que sejam relevantes e facilitem a vida do cliente. Por exemplo, se ele está pesquisando sobre o Dia dos Pais e eu trago um produto assim para ele”, explicou.
Apesar do discurso de foco no consumidor, a executiva reconheceu o aumento nas críticas relacionadas à publicidade nos aparelhos com Alexa. Leitores relataram que deixaram de considerar a compra de produtos da linha Echo Show devido ao incômodo com anúncios persistentes, exibidos sem opção de desativação.
A discussão não se limita ao Brasil. Na imprensa americana, o principal ponto de questionamento tem sido a falta de transparência. Consumidores compram o dispositivo com um certo funcionamento, e, algum tempo depois, começam a se deparar com propagandas que não faziam parte da experiência original. Situação semelhante tem sido associada à Samsung, que vem sendo criticada por exibir anúncios diretamente na tela de uma geladeira de alto padrão.
Questionada se a Amazon pretende oferecer a possibilidade de desativar a publicidade, Talita foi direta: não há planos, no momento, de tornar a visualização de anúncios opcional. Na visão dela, a reação negativa está ligada, em parte, ao fato de se tratar de uma novidade, especialmente no caso da publicidade exibida na tela dos dispositivos.
O movimento também dialoga com declarações recentes da própria liderança global da empresa. Em agosto, o CEO da Amazon admitiu o desejo de colocar publicidade “na boca da Alexa+”, a nova geração da assistente virtual. Essa versão ainda não tem previsão de lançamento no Brasil, mas já nasce cercada por debates sobre até onde a integração entre serviço e anúncios deve ir.
Em resumo, a Amazon enxerga a publicidade como um componente estrutural da experiência com a Alexa e como pilar para manter o modelo de negócio. Por outro lado, enfrenta uma crescente insatisfação de usuários que se surpreendem com a intensificação de anúncios em dispositivos que já possuíam – e sem a alternativa de desligá-los.